Profissionais afirmam que exercícios aeróbicos, aliados a trabalhos cognitivos, mantêm pessoas do grupo de risco ativas durante quarentena.
Exercitar não só o corpo, mas também a mente. Essa é a receita que profissionais que cuidam da saúde de pessoas da terceira idade têm passado para os clientes e pacientes durante o isolamento social por conta do novo coronavírus no Triângulo Mineiro.
Além da ativação física, conseguida através de exercícios aeróbicos e musculares, o estímulo cognitivo é uma maneira de manter os idosos em alerta e, ao mesmo tempo, mais relaxados e distraídos durante a quarentena.
Flávia Gomes trabalha com pessoas da terceira idade há mais de 15 anos, em Uberlândia. Profissional de Educação Física e com doutorado na área de neurociências e exercício físico, ela trabalha com atividades físicas e também estimulação da parte cognitiva.
Em um primeiro momento, Flávia explica que prescrever tarefas de ordem mental ajudam os idosos por si só, já que, segundo ela, as pessoas da terceira idade têm morte dos neurônios, redução de fluxo sanguíneo cerebral e neurotransmissores com o passar do tempo. Com a execução das atividades, ela afirma que pode haver melhora na memória, raciocínio, atenção, flexibilidade mental e planejamento.
Além disso, Flávia diz que determinadas tarefas, como palavras-cruzadas, por exemplo, distraem o idoso que está em isolamento, fazendo com que o tempo passe mais rápido e a pessoa não fique entediada.
“Elas motivam e preenchem o tempo do idoso, com outras tarefas e outro foco. A pessoa acaba se desligando um pouco dos acontecimentos atuais. A ideia é que crie uma rotina cerebral e inclua tanto os exercícios cognitivos, quanto os motores”, explicou.
Flávia Gomes conta que nos últimos tempos tem preferido realizar tarefas duplas, mesclando simultaneamente as partes física e neurológica. Desta forma, o idoso precisa executar o exercício proposto, realizando algum movimento específico e, ao mesmo tempo, trabalhando alguma função cognitiva.
“Isso trabalha o córtex frontal, o que traz benefícios no equilíbrio, marcha. São exercícios mais desafiadores e eles se sentem motivados”, completou.
O geriatra Rodrigo Guimarães, de 42 anos, enfatizou a importância do idoso se manter ativo. Ressaltando a necessidade de acompanhamento por uma equipe multidisciplinar e a aplicação das atribuições dessas áreas, o médico entende que o equilíbrio da saúde do idoso permite o envelhecimento saudável, prevenindo e evitando doenças que poderiam agravar o quadro clínico no caso do coronavírus.
Rodrigo Guimarães é geriatra e trabalha em Uberlândia — Foto: Rodrigo Guimarães/Arquivo pessoal
“No envelhecimento bem sucedido, o idoso se mantém independente fisicamente, com autonomia, doenças controladas, boa saúde física e ativo socialmente, o que minimiza o declínio funcional associado ao processo de envelhecimento, que é irreversível e progressivo”, declarou o médico.
Rodrigo ressalta que a parte psicológica do idoso precisa ter atenção redobrada, principalmente durante o isolamento domiciliar. O médico afirma que o distanciamento social pode potencializar alguns sentimentos comuns na terceira idade, como o de solidão, pela morte ou ausência física de entes queridos ou amigos, e de inutilidade, por aposentadoria ou limitações físicas para cumprir determinada atividade.
“Se prolongado, esse isolamento pode aumentar o risco de depressão, inclusive das tentativas de suicídio nesse período, ou agravamento de outro transtorno do humor já instalado, como por exemplo, esquizofrenia, ansiedade, transtorno bipolar. Pode ser também um gatilho para alteração de comportamento em paciente com déficit cognitivo, como os pacientes com demência de Alzheimer”, completou.
Desta forma, o médico entende que tudo que puder ser feito para criar uma atmosfera semelhante a que existia antes do isolamento por conta da Covid-19, deve ser executado, desde o contato com parentes e amigos com a tecnologia disponível, até o auxílio na organização e prática conjunta das atividades do dia a dia, sem pressa, com tranquilidade e atenção, para que o idoso se sinta querido e confortável.
Maria de Lourdes dos Santos segue os protocolos à risca. Aos 69 anos, a consultora de vendas, que vive com a filha e o neto em Uberlândia, tem trabalhado de casa. Durante o tempo vago, ela não se esquece das tarefas diárias.
“Eu faço exercícios todos os dias. Ao levantar, de manhã, faço algumas atividades para ativar a memória, o que tem sido muito bom para mim. Também faço minhas coisinhas do dia a dia, mexo com as minhas plantas, entre outras tarefas”, explicou.
Fonte e Texto Original: https://g1.globo.com/mg/
Foto: FreePik: