Desde que a pandemia se tornou uma realidade, os idosos têm sido encorajados a distanciarem-se fisicamente de modo a se protegerem de uma possível contaminação. À data, parece que estas indicações estarão em vigor por uma quantidade indefinida de tempo, o que aumenta o risco de isolamento social, um potencial problema de saúde pública para todos e em particular nos idosos.
O isolamento social está relacionado com vários problemas de saúde mental tais como depressão e ansiedade. Para que os efeitos deste fenómeno não sejam destrutivos, e para que acima de tudo seja preservada a saúde mental, é necessário um grande esforço da parte de profissionais de saúde e familiares.
Apesar de poderem estar bem de saúde, os adultos em idade mais avançada estão em elevado risco de desenvolver problemas de saúde mental – mesmo em circunstâncias normais. Este risco não é específico aos indivíduos em anos de reforma, mas nesta fase da vida existem fatores de stress adicionais que podem ser experienciados por cidadãos sénior, tais como a perda de capacidades motoras, mobilidade reduzida e outros problemas de saúde de natureza crónica que requerem cuidados a longo termo.
Em especial durante esta crise de saúde pública, é vital manter a conexão social deste segmento da população. A verdade é que a maioria dos idosos não se sente confortável a manusear smartphones ou a interpretar a linguagem mediática e por isso é necessário manter o contacto e explicar as notícias de maneira percetível para todos.
Lições aprendidas durante outras pandemias, como foi o caso do surto de SARS em 2003, provaram que chamadas telefónicas regulares de aconselhamento/terapia, contacto regular e de qualidade com a família, passar apenas informação relevante e respeitar o espaço pessoal e dignidade dos mais idosos são fatores cruciais para garantir uma boa saúde mental. Isto garante a sensibilização em todos os níveis para a rápida deteção da eventual necessidade de cuidados de saúde mental e a possibilidade de um planeamento de intervenções apropriadas, junto desta vulnerável fração da população.
Além das estratégias desenhadas especificamente para esta altura, os profissionais de saúde e governos podem e devem utilizar esta oportunidade para rever a promoção de envelhecimento ativo e saudável, tendo em vista a saúde mental. Esta advocacia específica envolve a criação de condições e ambientes que promovem o bem-estar, e que facilitam os recursos necessários para satisfazer as necessidades destas pessoas. Garantir a segurança financeira através de apoios sociais para os idosos e seus cuidadores bem como criar programas de saúde para aqueles que vivem sozinhos ou em populações isoladas são algumas das medidas que devem estar no topo das prioridades de modo a que sejam facilitados adequados cuidados para os idosos.
Está provado que a saúde mental tem um impacto na saúde física e vice-versa, e por isso, é importante preparar as sociedades e provedores de saúde para corresponder às necessidades especificas das populações mais idosas, incluindo:
- Treinar profissionais de saúde a cuidar também da saúde mental dos idosos;
- Prevenir e gerir doenças crónicas associadas à idade;
- Desenhar políticas sustentáveis nos cuidados a longo-termo e paliativos;
- Desenvolver serviços e processos intuitivos para todas as idades.
Um artigo da enfermeira Filipa Alves, Coordenadora Técnica das Unidades de Cuidados Continuados e ERPI da Ordem da Trindade.
Fonte: https://lifestyle.sapo.pt/
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