O aumento da população idosa vem crescendo no mundo todo. Aqui no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, estima-se que em 2030 seremos o quinto país do mundo em número de idosos. E com o envelhecimento acelerado da população, há também o aumento do número das doenças mais comuns na velhice como as demências, que assumem grande relevância.
Dentre os tipos de demência, a Doença de Alzheimer é a mais frequente na população idosa, cujos prejuízos da memória e atenção são as características mais conhecidas popularmente. Sua evolução é progressiva e irreversível. Os sintomas incluem mudanças de humor, perturbações no ciclo do sono, condutas repetitivas, agitação psicomotora, delírios e alucinações. E, sem sombra de dúvida, isso afeta substancialmente as atividades de vida diária do paciente que necessitará de assistência.
Nesse contexto, entra em cena o cuidador, responsável pelos cuidados básicos como alimentação, higiene, medicação, incluindo ainda outras tarefas que vão desde acompanhar o paciente quando sai de casa para passeios ou idas ao médico até, em alguns casos, administrar as finanças. O cuidador pode ser um profissional da área de saúde ou alguém da família, sendo este último o mais comum e que, muitas vezes, nem sempre é uma opção voluntária, mas aceita a função com a justificativa de que “não tem escolha”, o que dificulta prestar atenção em suas próprias necessidades.
As tarefas são inúmeras, mas o ponto crucial é que os demais familiares se preocupam tanto com o doente que esquecem que o cuidador também necessita de cuidados. E mesmo que ele seja um profissional de saúde, isso não quer dizer que o cuidador não seja afetado pelo estresse e desgaste emocional.
Na prática, cuidar não é tarefa fácil. É preciso lidar com os sentimentos decorrentes de tantas mudanças, além das privações do próprio estilo de vida, sempre deixado para depois. Tudo isto é vivenciado em um turbilhão de emoções, permeado com sentimento de culpa pela impaciência que o acomete algumas vezes em situações como, por exemplo, ouvir do paciente a mesma pergunta inúmeras vezes ou a alta dependência dele.
Por mais que o cuidador tenha consciência que tais comportamentos são decorrentes da doença, não é o suficiente para anular o desgaste emocional que o impera. Em geral, o desejo do cuidador de fazer algo por aquela pessoa que está doente, e que muitas vezes nutre tanto afeto, soma-se a sobrecarga física e emocional, despertando conflitos internos e sentimentos ambivalentes que oscilam entre a compaixão, a raiva, a tristeza e o cansaço. Tudo confunde a sua mente, impedindo-o de refletir sobre tais emoções para elabora-las de maneira a tornar menos estressante seu dia-a-dia.
Uma doença, como a Demência de Alzheimer, altera significativamente a rotina das famílias e as consequências negativas são maiores para o cuidador. O desgaste, subjetivo e objetivo, ao qual o cuidador é submetido produz fadiga, aumentando sua necessidade de isolamento, refletindo em sua autoestima. Por isso que as chances dele adoecer são altíssimas.
É preciso tomar algumas providências para reduzir a sobrecarga emocional do cuidador, como, por exemplo, fazer rodízio com os demais familiares, trocar experiências com outras pessoas que passam por esta situação ou buscar novas formas de enfrentamento, como a psicoterapia, para minimizar angústias.
É essencial incorporar algo, mesmo que pouco, para o seu próprio bem-estar. Para cuidar tem que estar cuidado, principalmente nos aspectos mentais e emocionais, pois, invariavelmente, vai refletir no paciente.
Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga