Engana-se quem pensa que os cuidados com a saúde mental ainda são “para poucos”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com depressão. Ainda, a cada ano, 800 mil vidas, aproximadamente, são perdidas para o suicídio. Apesar disso, menos da metade das pessoas afetadas recebe o tratamento adequado, mesmo que já haja recursos eficazes para o tratamento e melhora da condição.
“Infelizmente, esse tema ainda é um tabu para muitos, o que significa que as pessoas não falam tão abertamente sobre depressão e suicídio, assim como costumam não falar sobre a morte de forma geral, negando que isso exista”, afirma a psicóloga Ana Paula Mazorca, da Lar e Saúde, uma das maiores prestadoras de serviço de home care do Brasil. “Muitas vezes, familiares de pacientes em tratamento cometeram suicídio e isso não é conversado na família. Ainda, muitas pessoas não acreditam na depressão, pensam que estar bem é uma escolha”, completa, ressaltando, contudo, que aos poucos isso está mudando, como se uma semente tivesse sido plantada.
No caso do home care, a assistência psicológica pode ser crucial para o sucesso de um tratamento e varia conforme a complexidade e o diagnóstico de cada caso. Ainda que seja mais associado a pacientes com dificuldade de locomoção, por limitações clínicas, o atendimento domiciliar também abrange quadros de cuidados paliativos, pós-cirúrgicos e gestão de crônicos.
“Tenho pacientes paliativos que estão com o prognóstico fechado, sem expectativa de melhora. Ao mesmo tempo, tenho casos em que a pessoa perde uma função, então precisa lidar com um luto funcional. É um cuidado complexo que deve se adequar a cada caso”, conta Ana Paula.
No home care, o atendimento psicológico pode ser solicitado por meio de uma requisição médica ou algum profissional que esteja acompanhando o paciente.
Tratamento envolve profissionais e família
Definir as melhores estratégias e abordagens para o tratamento é fundamental para o acompanhamento do paciente. Neste caso, trabalhar em conjunto com outros profissionais da saúde – como médicos de diferentes especialidades, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos – e, principalmente, com a família da pessoa atendida, é primordial para alcançar um resultado de êxito.
“É um tratamento conjunto. A partir do momento em que você está em domicílio, você está no ambiente do paciente, inserido na rede de apoio dele. Assim, é preciso criar um vínculo muito bom com o cuidador principal e entender a dinâmica de apoio da família. Isso faz toda a diferença no tratamento. Também é muito importante todos os profissionais estarem atentos ao paciente, a fim de identificar demandas, comportamentos e até uma possível falta de limites por parte da família. É um conjunto de olhares que interferem na melhora”, orienta a psicóloga.
A relação familiar, afinal de contas, tem grande influência no processo de recuperação de um enfermo. Ainda que a presença da família seja benéfica para o apoio do paciente, deve-se ter um cuidado a mais, uma vez que, muitas vezes, pais, mães, filhos ou irmãos também precisam de acolhimento.
“Quando são episódios agudos, muitas vezes a família ‘sente’ mais do que o paciente. Há um sofrimento muito grande, já que em alguns casos ocorre a perda de funções ou são verificadas mudanças de comportamento. Mesmo assim, é preciso entender a importância de dar autonomia e privacidade ao paciente. Às vezes, um procedimento vira um ‘evento’, com todo mundo no quarto. Uma troca de fraldas, por exemplo, é algo íntimo, e é importante que seja respeitado”, diz Ana Paula.
Empatia como remédio
Assim como o atendimento psicológico em home care requer uma atenção que vai além do paciente, saber diferenciar os cuidados em domicílio também é fundamental. Neste caso, empatia, acolhimento e escuta são cruciais.
“Tentamos ao máximo manter uma relação profissional, mas a gente se envolve muito mais com o paciente, com a sua história. No home care, estamos vivendo o sofrimento junto com os familiares. Por isso, é preciso que os profissionais cuidem, escutem, acolham, entendam as demandas e as limitações e não cheguem impondo um tratamento. Os profissionais precisam estar preparados para o domicílio, ter um cuidado maior, já que as condições são muito diferentes em comparação com uma clínica”, pontua a profissional da Lar e Saúde.
Isso também vale para os familiares. Acolher e compreender o enfermo é essencial. Segundo Ana, muitos querem confortar, mas acabam reprimindo a dor do paciente ao falar que não precisa chorar ou que a situação poderia ser pior.
“É importante para o paciente dizer o que está sentindo e impor limites. Quando ele se cala, pode até haver algum reflexo físico. Dores de garganta e de cabeça, por exemplo, dizem muito sobre o que o paciente não fala. Nesse cenário, a psicoterapia chega para resgatar um pouco a autonomia de escolha e validar os sentimentos e dores do paciente”, conclui Ana Paula.
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